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Folhas de Outono




Se te disser que as folhas de Outubro me trazem paz sei que vais dizer de novo que estou louco. Vais me perguntar pelas refeições, pelos fármacos, pelos sonos e sonhos. Mas, mesmo que me ponhas lá de novo, só te quero dizer que é verdade.
Que me importa que o mundo caia, ou que os faróis me batam nos olhos fazendo cores infinitas. É verdade, as folhas de Outubro trazem-me paz. Fazem lembrar o triste fado das palavras de seda que enganam por serem doces.

Já tocaste seda, por acaso?
Ai, não.
Então cala-te!

Que sabes tu de dor e mentiras contadas no meio de copos de ternura? Dos estalos e bofetadas do caminho só? Para ti é tudo perfeito. Limpas a cara com a imagem da moda. Dizes o discurso do contra, que fica sempre bem e vais ver a quantas anda o bailarico escuro.
Achas-te gente? Achas-te alguma coisa?
Tens um coração que mente. É isso que tens. Que mente e nem sabes porquê. Tu sabes lá alguma coisa. Levas a vida ao desengano de te achares algo que não és. E à noite, quando as vozes se calam e se partiu o tacão,cais ao chão e resta a almofada para trincar na dor.

E no fim disto tudo, eu é que tenho uma vida estranha que tem de ser encerrada entre indesejados. Olha, vou-te dizer: eu tenho vocação de meretriz, só não tenho coragem. Coragem de ver mais que o certo de sofrer meticulosamente este plano teu quando dizes: não há folhas de Outubro com paz.  
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