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Indesejado




De mim já só me falto eu. Falta sempre algo, uma parte. Nunca o todo. As pessoas até podem lembrar, dizer, falar ou trazer, que falta sempre parte.
A lua foge-me por entre as mão e só os olhos lá chegam. É sempre este tempo que passa e leva o que ficou de bom, e nada traz.

De mim já só me falto. Falto em tanta coisa! Falto no meu ver mais, no ser mais, no acreditar um pouco mais. E sinto que estou só com as pedras da calçada encostadas ao banco do jardim. E ganho um ódio ao mundo que me afasta tudo e me deixa cada vez mais rua pisada, calcada, sozinha ao fim do dia.

Lamento de quem chora a sua tristeza embebida de pó, como se água tivesse fugido e a terra estala-se.
Hoje não vou ser egoísta, quero que tenham dó. Que levantem as mãos em prece pelas feridas da esperança morta.

É só confusão, andamos na berma apressados e esquecemos que somos uns.
E as pessoas vão, falando sobre suas vidas espelhadas em quadros idílicos.
Gente que engrossa aqueles que me deixam aqui, com isto tudo sem nada mais para verter a não ser um pouco mais de mágoa.

Este não sou eu, é outro. É o indesejado a quem eu abro a porta e dou um prato de pão. Falo dele porque ele sou eu. Ele é nós. Ele é o homem que esqueceu, só por um segundo, as palavras com cor.
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