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A estação pedindo o mar



Desejei o mar para mim e para ti. Aquele manto infinito de azul lembrando monarquia. Nós réis  numa cabana feita de algas do mar. Como jardim, a areia virgem, desejosa dos beijos salgados vindos do horizonte. Cegonhas a nos acordarem de manhã, dando gritos de fome dependente.
Sonhei o mar para nós.
Quis guardar as ondas, roubar-lhes a lua e fazer dela luz da nossa casa. Baníamos as velas, as tomadas. Escorraçávamos as filhas do Edison de casa, essas cheias de pressa e amigas da cidade. Convidávamos pirilampos, bichos alados e as estrelas do céu. Toda a casa cheia de luz, com uma lua ao centro, roubada aos outros, entregue a nós ...
Sonhei com isto, com vidas calmas, certas, protegidas. Juntei-lhe férias, praias, cidades bonitas, teatros cheios, fotos preenchidas. Ocupei com isto o tempo, com estas pinturas lindas, com suspiros ansiosos e desejos profundos, só saciados nas mãos de outrem.  

Porém, desejei demais.
O mar galgou a costa e levou a cabanita. As nuvens, como algodão doce, levaram a  lua, raptaram as estrelas e assustaram os animais. Com medo da tormenta deixei de acreditar em palavras. A vida pode ser muito dura sabes ...
Num dia somos deuses, passeando no Olimpo; noutro instante somos passageiros de Caronte, afundados num rio de tristeza e saudade.
   (há um poema chamado Portugal que fala da saudade. tem mais de dez milhões de versos e é lindo)

Desejos à parte, continuo a ir ao mar.
Que fazer? Olhá-lo.
Para quê? Não esquecer.
Porquê? ...
Talvez me encontre na estação número 6, onde entram e saiem sombras negras com um chapéu e gabardina.
Sentado, eu, num banco entre muitos.
Submerso, eu, no silêncio dos meus pares.
Esperando, eu, ter uma casa iluminada com a lua, bem frente ao mar.
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