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Carta



Numa carta amontoada de pó havia amor e uma mãe. Um filho a recebeu das mão dum homem de boné. Era uma tarde lá no passado e os pássaros brincavam com as folhas jovens. O filho cultivava a terra com as unhas escuras e ancestrais, repetindo o saber encadeado no ADN dos pobres.
Ao fundo a nuvem de pó anunciava o homem das letras. Vinha numa bicicleta  pintada com sonhos distantes. Ele gostava do homem das cartas, ele desejava velo sempre ...
Deixou a terra e foi olhar o homem. O homem tinha suor na cara e os pulmões desejavam soltar-se do peito, estava cansado.
(pegou numa carta alva e deu-ma. eu estranhei, as cartas são estranhas! disse adeus com os olhos e fui juntar-me aos pássaros)
O filho sentiu a saliva da mãe e desejou um beijo, sentiu o cheiro de seus lábios doces e distantes. Era solidão que sentia, não saudade. Olhou as folhas presas à mãe árvore e sentiu-se criança, era criança ainda. O vento guiava os pássaros  e a terra aberta esperava por ele.
A terra ...
A terra que lhe levou a mãe!
Mas a mãe ali, vestida de branco e decorada com letras. A mãe.
(abri o envelope e senti a brisa dela. ela era brisa sempre! vi a folha de papel barato e desejei-lhe as mãos. senti um beijo no rosto, era ela)
Papel dobrado em quatro como uma toalha seca ao sol do verão. A roupas sempre ordenadas num armário antigo e imaculadamente secreto, oculto das brincadeiras pelo nevoeiro da lei amorosa. Regras da mãe!
Beijou o papel e abriu-o como se uma relíquia fosse.
(chorei. era tudo claro e limpo. tudo simples. era tudo)
O papel dizia três verdades:

Amo-te filho. 
Mãe
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