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Responso ao famoso moderno



Louvados sejam todos os canivetes, parafusos e transístores encontrados na evolução do homem. Benditos os carros, as máquinas e a distância encurtada por um telefone. Amados sejam os metros e comboios, os aviões e os barcos, e todos os meios onde funcionam válvulas, motores e roldanas.
Exaltados sejam os corações automáticos, espelhados e pintados com vermelho forte. Sejam distribuídos e aconselhados pelos médicos, robots do saber, como necessários, imprescindíveis e obrigatórios ao bom funcionamento da humanidade abrutalhada.
Deixem-se as canções e os beijos. Não se pode amar, porque o amor é fraco. Glorifiquem-se as lutas e as mortes multiplicadas por um mundo novo: o mundo das coisas. Tragam coisas aqui, e para ali, e para todo o lado. Congelem-se os olhos, porque a beleza não existe e a vida é nada mais que repetições pirotécnicas. Explosões de desejos encavalitados na ânsia de possuir.
Arranquem os quadros e a arte. Cale-se a voz do poeta e encerre-se a música no esquecimento. Partam-se os instrumentos e os dedos dos sensíveis que a tocam. Matem-se os maestros, os pintores, os homens da fotografia e as gentes que brincam com a pena.
Hoje o mundo é da força e dos apetites, das crenças e desconfianças, da vida da vizinha e do carro do rico.
Hoje o mundo é dos roubos e dos armados, das mãos pérfidas e manchadas de sangue, glorioso, glorioso, glorioso ...
Hoje somos uma amálgama de inventos e de lutos alegres.
Somos corpos, corpos, corpos ...
Chamem-me a morte acutilante e justiceira ... venha o fim do humano!!!
Comentários
1 Comentários

1 comentários:

Anónimo disse...

Está fenomenal. De facto podemos louvar tudo isto, pois na natureza tudo existe para que o ser humano possa ter o que necessita e ser aquilo que o mundo precisa. Abraço