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Devorado coração



Apenas esperando que a noite passe porque os candeeiros lá fora escondendo o sol e a minha mãe que dizia
- Gosto de ti filho
e eu já não sou filho.
A noite lá fora e aqui, nesta sala onde conto os tempos desde que partiste, porque todos partiram e hoje sou só.
Só hoje.
Hoje os candeeiros iluminam a rua da cidade, os pobres discutem pelo pão do lixo e os homens da droga já partiram na sua nave espacial. Mas eu, eu sem mãe,
-Gosto de ti filho
porque enterrada lá na quinta das cruzes na terriola donde vim. Agora eu, aqui nesta casa onde há tudo que quis menos tu que saíste e minha mãe que emigrou. Na casa do vizinho amontoam-se os sons do despertador, do banho, do pão com geleia
(minha mãe fazia geleia. nós no terraço e ela fazendo magia. minha mãe fazia ...)
e o mundo começa lá. Aqui não começa nada porque o som da TV fugiu e os segundos são fotos. O tempo é pesado em álbuns nossos. Ai, e pesa tanto!
Como se diz isto tudo? Como se diz o escuro dentro e os candeeiros na rua tentando afastar o sol que nasce. Coitados, vão perder. Todos perdemos.
(minha mãe fazia ... já não faz)
Quem nos suporta esta derrota? Como posso olhar o tempo pesado em fotos e cumplicidades, em jantares preenchidos por um apoio certo? Foste o meu porto.
Por favor, dá um beijo na minha mãe! 
Comentários
1 Comentários

1 comentários:

Zita disse...

E na Minha também!