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Um quadro de Monet



Louvado seja o princípio da escrita com os seus acabronhosos mistérios. A vida escondida nas letras adocicadas na língua com excesso de açúcar. A impressão absurda do tempo transmitida em parágrafos penosos e sublimes.
Contam-se as pedras em advérbios e adjectivos e o quadro da vida repudiado nos cantos dum capitulo triste. Talvez os complementos expressem. Um remoinho fundo, enérgico e demolidor no peito. Pinceladas nervosas retratam um espaço impossível
é meu
é meu
é meu
impossível!
Meus olhos fulminados pela luz que não canto, não digo, não mereço. O rio translúcido e multicolor traz hoje um sabor a terra e cinza. Ardeu naquele monte onde o sol nasce maravilhosamente todas as manhãs. Vejo os pinheiros reflectidos num espelho tão imenso e a terra cruzada por milhares de pontos de luz.
Por isso remoinho.
A cabeça juntando imagens, momentos e distâncias.
Não sei contar os frutos aromáticos das laranjeiras que atravessam os Invernos de antes, ou os pêssegos imensamente altos nos Verões que Deus levou.
Deus levou e não sei sair do remoinho de tantas partes eternas.
Um fogo cheiroso que faz ferver as carnes até estas se destituírem do sangue seu. O carvão preto preso às membranas do corte animal e um rio que corre lá em baixo enquanto o monte arde.
Mas nada disto verdadeiramente escrito.
Que mundo é este onde letras se acham sensações?
Que galáxia leitosa polvilhada de luz é esta onde os montes se reduzem a números de rodapé?
Que calamitosa culpa é a minha por reduzir o inefável a caracteres!
Os titãs que seguram a terra onde caminhamos e um quadro de Monet, nervoso e expressivo, onde tudo faz sentido e os beijos, que desejamos quando a cabeça bate na travesseira, se tornam verdade.
Dolorosamente o tempo corre em golfadas de ar e em fotos garridas onde tudo é mágico e lindo.
Somos tão eternos
e
pequenos ...
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