Share
ShareSidebar


Estes animais que dançam



Das terras além vem um barco antigo. É de madeira. Duma madeira do Brasil, aquela madeira que já não há, com um cheiro que se foi. Costumam dizer que o barco atravessa a infinidade sem guardar povo no seu corpo, é oco. Totalmente desprovido de vozes humanas.
Simplesmente levita sobre o espaço azul contemplando-o. É como um deus dos tempos antigos, simplesmente se apresenta pelo silêncio e assim vence as imagens coloridas de cá . Domina-nos e, de certo, odeia-nos. Espuma pela boca só de nos imaginar, de nos saber por aqui. 
Sabe quão pequenos somos, quão fracos nos estendemos, quão inúteis nos tornamos.
Viu ao longo dos dias, os nosso ritos, as nossas liturgias solenes, as nossas palavras mais santas,
mais nossas,
mais escondidas na multidão.
Já sabe o sentido de recta ... de linha ... de horizonte.
Percebe que nos igualamos, que nos remetemos a crónicas fantásticas todas elas com o mesmo sentido. 
Ri-se de nós,
humilha-nos quando se deita. 
Pergunta-se para que somos,
para que fomos,
porque nos perdemos neste teatro. 
Sabe que acabaremos,
profetiza isso. 
Viu o mundo mudar por si, e sabe que findaremos. 
Talvez nos respeite ... o povo diz que sim. 
Eu tendo a não crer ! 
Acho que nos observa as danças até que a morte o leve.  
É a solução mais viável. 
E, como sempre, a razão é simples.    
Comentários
0 Comentários

0 comentários: