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O cansaço dos anjos



Talvez entenda quando for experiente,
velho,
preenchido de sabedoria.
Hoje não consigo. Sei do sol, dos números, dos contos das pessoas que passam. Conheço a senhora que vende o pão, o louco do trânsito e as meninas que andam sempre juntas,
tão lindas, tão crentes,
mas o profundo ainda não é meu.
Posso praticar a bulimia dos tempos que correm, aquelas mensagens de todos,
do riso,
do grupo.
Posso deter-me no frívolo destes hábitos gerais, comprometer-me com o nada, essa divindade tão importante no agora imediato.
Posso até ser fácil, aprazível ao ouvido, e regular-me pelas frase que fazem o mundo ser simples, mas nunca serei eficiente no sentir.

Um dia tudo passa,
minha mãe cantava,
Um dia tudo passa,
minha mãe chorava ... 


Minha mãe,
não chores,
os sinos são de todos
e cantam melodias de anjos


Sou duma origem forjada em desgostos de Verão, tenho como gosto os suplícios de pensar o amor, e regulo-me pela lógica do abrandamento das sensações.
No fundo sou fruto dum fenómeno errado e tenho prazer em ver os anjos cair.

Os sinos tocam a rebate,
tocam a defunto,
tocam por nós 
tocam ...


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