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O tempo para cantar



Dolores, vai apanhar os lençóis do caixão da mãezinha,
pobrezinha ali cadavérica,
não a  faças esperar naquele posto de guarda deitado.
Depois põe a mesa, presta-te à restantes lides da cozinha que é assim a educação edificada.
O pai vem logo,
arames nas mãos, dinheiro na mala e tudo fácil.
Coloca sapatos com graxa,
tem empenho,
arruma os jornais,
vê as louças.
Arranca flores depois do sol se pôr e mete tudo num jarro,
Dolores empenho,
tudo nas aparas do vestido da mamã, na terra da quinta na modernidade dos toques eléctricos ...
Dolores, um dois três, recta, firme, empenho !!! 
E minha querida, guarda esta carta como um testamento. Não voltarei mais.
Encerra as minhas contas no banco, desconta as letras e guarda as jóias.
Fica sabendo que dei um tiro na mãe porque ela andava metida com o pasteleiro,
imagina tu que estavam os dois nu sexo contorcido.
Eles ali no canto da biblioteca expostos ao prazer. Não são as mães puras ?
Diz ao pai que o amo muito e à mãe,
à mãe perdão.

E Dolores, canta uma modinha por mim.
Com empenho.
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