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A luta



Escrito como uma história de amor.

Mergulhado no mar interior está um sonho. Caiu de uma árvore, coitado. Estava ele preso, como fruto bem comportado, e lá foi cair.
A culpa é do vento, esse malvado, a culpa é dele. Veio à socapa roubar o que não é dele. Fez um bocado de força  e estava o desastre armado. Conta lá vento porquê isto?  Malvado.
E agora, a mãe árvore chora. Os irmãos sonhos choram. As tias folhas tremem e os tios ramos rangem. As avós raízes limpam as lágrimas com torrões de terra.
Está o funeral armado, caiu um sonho ao mar.

O mar interior é um buraco escavado na rocha. Um buraco em jeito de oito deitado preenchido de água. Obra do Senhor Arquitecto  Lúcifer, homem de grande valor e obra. Dizem que está no ramo dos buracos à muito tempo. Eu acredito, aquilo é obra bem feita.
Está o coração feito em mármore branco e puro. Mármore de qualidade e mistério, coisa bem sólida. E nisto um buraco. Um furo fundo com desenho de oito.
É obra árdua!

A água do coração.
A água do mar interior.
A água salgada é feita de perdas. É a gente que não se vê mais, o cão que morreu, os amores distantes, os ódios eternos.
O mar interior é a casa da dor.

E o sonho juntou-se à dor num dia de vento. Lutaram os dois numa guerra épica. Estavam dois grandes exércitos de cada lado, eram espadas, flechas, cavalos e dúvidas.
(as dúvidas também lutam. ganham sempre ao tempo. põe cabelos brancos na testa)
O bebé nasceu e começou a luta. Ele nos braços da mãe e a luta lá dentro. Tadinho bem chora, mas não vale a pena, a luta contínua.

Enquanto houver estrada para andar e uma tempestade nos olhos. 
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