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A sala vazia



Trapos de roupa pela sala, o cão deitado junto de mim e copos partidos
   (coisas de cristal. ouro nos dedos... aquela mulher é infeliz!)
na cozinha. A noite a entrar pelo vidro sem pedir licença, penetrando como o tempo faz desde que viemos cá ver o sol e a chuva.
O dia passou e eu, o mesmo, deitado num tapete de pêlos onde migalhas de pão habitam.
Eu, o mesmo, deitado sobre poeira de tantos pés que pisaram este andar, agora parado enquanto a noite vem  esconder os copos partidos na cozinha.
Eu, outro agora, perdido dentro da minha cabeça, enquanto minhas lágrimas caiem devido às derrotas constantes. Aos golpes profundos infligidos por mim e por outros.
Pudesse eu levantar o tapete, correr com o cão
(cão que amo, cão que me olha todos os dias e diz "porque és assim?")
e remendar com estes trapos de roupa os copos partidos na cozinha.
Mas o tempo não deixa, porque o coração não quer.
Bebo o meu sangue misturado com o sal dos olhos, saboreio a canela de uma vela acesa e enfrento restos de um espelho que também partiu. Tudo partiu, ou em bocados, ou pela porta fora. Entenda-se esta forma de estar deitado, com um cão a fitar a noite
(sempre noite!)
feita ladra e sem emitir um aviso.  Calmito o cão e morto eu, pregado a um tapete cheio do pó das nossa falas. Agarrado a restos de meus pais que ocupam, agora, uma moradia para os lados das cruzes juntas a estátuas. Preso, eu,
e logo eu tão isto, tão aquilo,
a uma situação de silêncios ocos onde ouço o meu respirar bater nas paredes sufocantes de ser tão só.

Que posso ser agora oh possibilidade imensa?
Uma nódoa no chão!
Comentários
1 Comentários

1 comentários:

Zita disse...

Levanta-te e olha a Luz, deixou de ser noite!