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Kill for love



Dois postos escuros na beira da estrada, o vento quente e os pássaros já a repousar. É noite, sim, é escuro dentro e fora, e nós a olhar a paisagem das cigarras. Enfrentamos o horizonte de forma séria esperando que o desconforto passe.
Fomos sempre belos, eternos, recomendáveis.
Fomos farol.

Pequeno via as pessoas amarem, correrem, gritarem. 
Todos são loucos quando amam.
Quando eu era pequeno todos eram loucos.


Não sei contar o que aconteceu, não sei nada sobre sentimentos. Na infância era a educação, os vizinhos, a dor sempre eterna dos outros. Sou um incompetente sentimental, tenho uma carga de ossos, eras em rochas, pedaços de barcos naufragados.
Só sei falar do vento que me cega os olhos e me obriga a esconder as lágrimas. Só entendo do verão que corre e as noites que de curtas se tornaram longas. Custa falar-te quando as cigarras a cantar e eu sem saber nada de nada. Nem um pouqinho de qualquer coisa que me salve desta aflição de ver as estações passar e a fé a morrer.
Sou trôpego, é a explicação mais coerente para tudo, tudo se explica pelas falhas.

Uma educação esmerada, os adjectivos e os substantivos todos alinhados em fila, os dias todos com um sentido universal que ultrapassa qualquer desejo, sentimento, fuga irracional. 
Um exército. 


Acabo por deixar a peça. Levanto as pernas e caminho para o caminho de terra batida onde antes passavam bicicletas e catraios felizes. Viro o rosto e falo:
- Já não sei matar.
E corro.
Na cabeça sei que desisto, mas é isto ou a morte.

Bang bang. 

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