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Curto




Hoje quero que seja curto.
Eu não sei porque me lembro de escrever um texto de ti. É que tu já não estás cá.
Bem, eu escrevo sobre outros que também não estão cá, mas sobre ti é diferente. É que sobre ti não se pode escrever Leandro. Sobre ti é sempre diferente.
Contigo são manhãs estranhas entre sonos e palavras secas. Contigo é não saber que escrever, é lembrar os passeios nas ruas de qualquer lugar que, se calhar, nem fostes. Para te pôr em linhas é preciso demias. É como cantar a força de um tempo diferente, não passado, mas futuro.
Sinceramente, porque falas só na rua? Quem discute contigo? Porque raio paras a ver as casas, ou ris para as crianças birrentas que lutam com os pais? Deve ser porque tu também brigas lá dentro. Sempre que te vejo estás em brigas. Ou é a noite de não sei quando que se mistura com o sorriso da senhora desconhecida.
Ai! É impossível não ficar irritado com as tuas ausências. Ficas ali, num sítio qualquer, parado e perdido. Porque tens de dizer que não te lembras? És tão falso! Tu lembras tudo, basta ver os olhos a cintilar rios de conto de fada. Podes esquecer as datas dos anos, das festa e dos bailes, mas sabes os momentos, as frases e as sequências. Tens a mania que és filme sem narrador, sem lugar, sem tempo.
Agora só quero ser curto. Despachar isto depressa porque quero ouvir umas coisas. Sabes o que dói pá? É que não me arrependo de ti, dos teus jogos, das tuas pessoas movidas em papeis. É mau actor, dizes tu, mas todos os dias levantas um cenário, arranjas acessórios, patrocínios, público e argumento. E lá vem a peça, fluente em palavras e silêncios.
Bem, quero ser curto! Hoje vou escrever um texto de ti. Das tuas entranhas desconhecidas. Das tuas pelejas e brincadeiras. Vou escrever sem a senhora do lado, o menino que pede na rua, os velhos da tasca, a senhora de berço ou o autor que gostas.
Vou começar, vê bem: EU 
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