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Perceber




Vou lá fora, vejo a chuva. Pego nas crónicas do Antunes e lembro-me de um poema do Alegre. De passagem vem-me à imagem um texto do Pessoa (muito bom mesmo). Releio a entrevista do Mia Couto, os elogios feitos pelo Eduardo Angalusa,  o bloquinho onde escrevo. Releio tudo, as imagens da infância, os contos do Torga, as críticas do Saramago.
E no fim de ler, reler, mastigar
   (o Nuno Lobo Antunes quando quer escrever é como uma betoneira, mastiga tudo bem mastigado, depois lá sai alguma coisa)
não sai nada. Nada mesmo.

Hoje trovejou. A luz tremeu um pouquinho. Eu arrumei a cozinha: lavei as panelas, os tachos, os pratos.
Quando eu era pequenito tinha medo dos trovões. Era muito barulho. Parecia que ia cair tudo, eram as paredes a tremer, a luz das velas que lembrava velório.
Sempre detestei barulho, ainda hoje detesto. Mas o medo dos trovões passou.

Volto à janela e penso: "já levei o lixo. Tenho de ler os Lusíadas e acabar a porra daquela introdução enfadonha."
Saio da janela, volto para o PC. Acompanha-me a melodia dos coristas que toca e toca. E não é que os rapazitos cantam mesmo bem?
Será que o Lobo Antunes ganha o Nobel quinta? Não sei. Mas que era bom, até era.

Piro-me do PC de novo. Lembro-me de como se faz arroz seco, das noticias, do velho que olha da janela do lar e diz "isto vai ser a minha morte".
Sabe senhor velho, vai ser mesmo a sua morte. É pena que vá morrer longe de casa. E eu? Como vou passar a curva da vida? A Mariza diz que o Medo vai espera-la na ponte. E a mim? Terei o medo ao menos à espera?

Esqueço o velhinho. Volto ao PC. Lembro-me da letra do Rufus e daquele que gosta das musicas dele. Será que já dorme?
E a porra da maquina que não dá! Eu penso e não me vem nada à cabeça. Raios partam a máquina.
Vou sair do PC.

PS: Velhinho, dorme bem! Eu vou tentar perceber.
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