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Noites com o mar



Numa noite destas as estrelas são pequenas e o vento é muito. Não sei se conhecem a zona junto ao mar. As costas da terra?
Sim, vocês não sabem que a terra é um corpo onde se notam os ossos salientes. Fitamos nós cada vale sozinho e pacato e vem-se-nos à mente a gentinha dos fornos eternos da estrela de David. Imagem mais suja de tristeza e revolta ... como fomos capazes? Não sei. Tenho medo que ainda sejamos capazes. As crianças na rua dizem-me que não. Elas, tadinhas, fitam-me sem artimanhas e sorriem. Tão donas de tudo, mostram os dentinhos de leite e vencem-me, humilham-me.
Mas voltando às costas, cada país é uma pele, um órgão, um tom diferente de cabelo, uma sombra de íris. Prendem-se esses mecanismos todos na espinha debruçada sobre o mar. Agarra-se tudo ao osso duro e forte, para contemplar o mar,
Por isso, a face devia estar voltada para as costas. Ficavam os olhos presos no mar, nas ondas, na lua dona das marés e nos peixes guardiões de sonhos. Assim, sempre se deixava o coração bater um bocado à vontade. O pobre também precisa de paz e sossego. Tudo  olhar para ele, sempre voltado para ele a dizer: "porra, outra vez só? não ganhas juízo!"

Já disse e volto a dizer, numa noite destas as estrelas são pequenas e o vento é muito. Era virar a cabeça para as costas, deixar o malandro bater, bater, bater até endireitar. Ficar fito no mar a invejar os peixes, as ondas que vão para lá e voltam de outra forma.
Era só distrair um pouco destas coisas de mundo. Será que me podiam dar a certeza de uma criança?
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