Share
ShareSidebar


Um pau oco numa paragem



A nossa vida escrita numa paragem de autocarro.
Assim ,ali, escarrapachada em letras obscenas e ofensivas para as mulheres que bradam aos céus com suas rezas repetitivas em Igrejas abarrotadas de flores.
   (um jardim de Inverno. onde estão as flores? é a alergia)

Não vou falar, portanto,
   (espero que percebas, há coisas das quais não falamos. somos adultos crescidos. põe lá isto na cara)
da música de Mozart saída de um pau oco. Já sabemos os dois, e todos, que aquilo é lindo. São pedacitos da nossa vida, da nossas esperança, do nosso ser
   (eu sou. tu és. ele é. nós somos! que cheiro a flores!)
enchendo o ar de cor. Qual quadro qual quê! Vi-me tantas vezes numa nota de Mozart ... deves-te rir disto, mas cada som é um espelho ou um balde dum poço,
   (um pouco de água dos olhos para regar as flores. pesa-se a vida nas contas do terço. será que já está pago?)
agarramos o recipiente flutuante, atira-se a corda até bater no fundo. Um fundo que não vem, um fundo que sou Eu!

E, se um dia, andares num autocarro enquanto chove.
Se um dia sentires um cheiro de flores e suor no ar.
Ou ouvires um barulho surdo de um silêncio imposto.
Não te admires, por veres numa paragem qualquer
a nossa vida escrita.

Esboça antes um sorriso pelas palavras baixas que leres ...
pensa no pau oco de Mozart e sorri.
Já pagaste a conta ...

PS.
Sobre flores em Igrejas e gente desesperada em afiar a língua, ei de dizer umas palavritas. Por enquanto ficam as flores e o medo da morte.
Comentários
1 Comentários