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O incontornável ser das coisas



Dormindo com a desilusão presa aos ossos e o esqueleto dançando com o silêncio. Dormindo de olhos abertos, fixos no terror. A escuridão entrando pelos poros e o desespero batendo no fundo do peito. A vida sem sentido por mais que um segundo.
Doi tanto. O sono que nunca vem e o escuro da luz desligada. Deitado na cama sentindo tudo morrer porque a escolha passou. Passou tudo depressa e eu não vi. Ninguém viu.
Ninguém sou eu.
Não tenho olhos,
perdi os braços,
enterrei a esperança numa campa aberta.
A cabeça fundando o rosto na almofada. Água corre pelo tecido e entra nas fibras. Água minha. Escorro-me sobre um travesseiro branco, esperando um anjo que não vem. Mirram-se os sonhos, confissões desta travesseira branca. Fico pequeno, bebé, insecto.
E o peso no peito.
Luto. Chumbo. Luto.
E o peso no coração.
Luto. Dor. Luto.
E o peso em mim.
Luto. Morro. Luto.
Escuro o ar e sons surdos, abafados e sofridos, vindo de uma respiração soluçante. Sei que choro e liquido saindo de mim, é a alma a correr. Agarro o cabelo e tiro molhos à força. Meus músculos contorcidos de dor, desespero e frio. Explode a dor em cada veia e os músculos saltam, tudo salta, tudo sai.
Tudo sai. Tudo morre. Tudo é o seu dever!
Comentários
1 Comentários

1 comentários:

João Bosco da Silva disse...

A agonia do desespero em palavras lhe tocam a natureza de verdade. Só tu.