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Geração



Não há livros que nos possam esconder. Não há nada já.
Deitamos as frontes no sofá e o tempo correndo diferente, uma folha em branco aberta no ecrã e a senhora do lado contando as velas que ficaram
  (sabe. meu pai morreu. foi triste)
após a tarde cinzenta.
No fundo da sala uma humidade antiga dormita ao som dum relógio antigo, com ponteiros que andam. Do lado da porta repousa uma planta feia, prática e objectiva. Preferia-a morta, mas eu não tenho preferências já. A rotina das cabeças no sítio certo, dos pés com meias e chinelos, mais o chão passado, limpo e claro, roubaram-me o amor dum frio aventurista.
Talvez tudo tenha acabado quando as paredes ficaram clássicas !
Quem disse que os sonhos do mundo são os nossos?
Quem disse que os mundos da minha mãe,
(tadinha. sentada numa cadeira de vime vendo o tempo passar. "estou velha")
que as ânsias da minha mãe são os nossos ?
Gostava que não fossem, tenho aversão absoluta às propriedades iludidas dum T2 arrendado sobre a periferia duma "rameira" cheia de túneis  e carris.
Mas ficamos lentos, poeirentos e lúgubres. Envolve-nos um líquido amniótico que nos torna queridos, desejados e, por tal, assentes.
Por isso o candeeiro que não fere, a cor neutra e o sofá aprazível.
Não tivemos escolha !
Somos amarras a um tempo que não é nosso , que não é de ninguém !
Talvez seja da vizinha, velha e morta com velas.
Da vizinha sem cor onde quadros ganham um cinzento de filme triste e de época.
Estas paredes não são nossas, nem dos nossos, nem de ninguém: casa pendurada nas mãos de criança vitoriana.
Mas que fazemos agora ?  
Nada ... continuamos o circo !
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