Os dias não se explicam.
Naquela casa onde guardei tudo vi-te
vi-te
digo.
Foi ali que o erro começou, a trapaça ... enganei-me ...
Acho que sou livre, entendes ?
Somamos as nervos, as histórias, a sabedoria das pontas dos outros. Tudo um aglomerado sem fim ali, exposto na pele.
- Eu sei isto ! (admiração) Sei a cor do céu, a fala dos ricos, o cheiro dos livros, o som das peças, o clamor dos famintos, a lábia dos políticos
sei a liberdade.
pouco me vale a fala
Não me podes pedir que abandone, ninguém pode. Colecionei isto, arrumei em compartimentos íntimos e escuros. Vê bem, à direita as folhas do Outono, em baixo, como que escondidos, os passos que foram e à esquerda o tempo melancólico de isolamento.
Ninguém pode curar a ferida do abandono, da recusa, das lágrimas caladas, do coração perdido, das lutas falhadas.
Eu sei que tu querias isso, tu querias domar o impossível, querias
querias a redenção.
Sim, tu prometeste o alívio do meu fardo, tu anunciaste o dia do descanso.
Mas eu não pude,
eu não posso,
eu tenho a tempestade tatuada em pequenos poros,
- Olha, vê a minha pele !
a maresia e o vento em pequenino mistério a cantar, "não sou de ninguém, não sou de ninguém", num ad libidum perpétuo em forma de rondó.
Mas os dias não se explicam.
Vieste,
pediste,
conquistaste.
Eu fugi e fui fazer ninho com os lobos.
Perguntaste num aceno se a dor era muita ?
- É ...
Mas o tempo tudo lambe e o fogo sempre consome.
Segue sem culpas, o jugo cá fica.
sou pateticamente livre numa moradia certa
foi aí que te vi