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Duas tardes, uma noite, nenhuma manhã



Duas tardes, uma noite, nenhuma manhã.
Arrastamos o corpo pelos restos,
foi ver,
ter,
dar,
requerer,
entender ...
E agora sozinho,
sempre sozinho, um gato preto a ver a estrada, medo
entendo os pequenos terrores de cada homem e que terrores. Uma inesperada partida, um estranho regresso, as contas que não param, os pais que se prolongam como uma sombra do dever.
amo-te, faz isto, amo-te ... faz
Nada pára, nada fica e todos lá fora numa festa de anos, os campos de milho no Verão a criarem muro e tudo novo.
No fundo só quero um lugar onde os gatos falem e a minha mãe mais feliz, com sol e mar, onde um sabor de plenitude na boca,
um sabor de pinheiro que preencha as brechas.
Nunca quis duas tardes, uma noite e nenhuma manhã,
"não amarás o fugaz"
mas o capricho vence sempre e ninguém nos abre o corpo como quem desvenda um livro precioso. Somos caixas
gato à porta, carros na estrada, frio na cara e senhores enrolados em cartão
películas de cinema sobre nós mesmos.
E que mal tem esta mentira ?
No fim o tempo é sentir-se mesmo que numa consciência breve.
O resto são anos sem duas tardes, uma noite e nenhuma manhã.
o gato voltou, a rua ruiu, não acreditarei mais. 
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