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três pequenas palavras



Tenho um tic tac dentro de mim a ecoar,
batendo,
roubando espaço ao som.
Ouço os corpos que se aproximam mas não os entendo, vibram misteriosamente numa alegria própria e eu longe.
Finjo.
Sei os procedimentos todos,
um sorriso,
a fala leve e animada,
um sorriso,
o toque pessoal de primeiro grau,
um sorriso,
louvar a folia,
silêncio.
Mas nada cala, nada afecta, só tenho comigo o tic tac batendo. Os espelhos alinhados em quadro, a minha fala engasgada no fazer e o coração,
o coração,
suspiros 
escondido a falar com o bater do tempo.
Quero-te e ninguém sabe, quero-te e ninguém vê, quero-te mas não te terei. Já não me tenho a mim, finjo cada hora, porque os minutos são teus. Finjo cada toque, só a ti a pele quer como num capricho insistente.
Já tentei o prazer, nada ficou.
Já infligi dor, o espírito ficou mudo.
Se chorar servi-se !
Tenho um tirano no corpo e o sei reino é violento, impõe-me torturas imaginárias em forma de recordação. Todos os lugares com pedaços de estados, as luzes a falarem "este dia foi assim" numa esquizofrenia avassaladora. Trago sempre lágrimas nos olhos, como só quem está sentado sobre a sua ruína pode entender e as paisagens já me são tão insuportáveis por ver nelas só o que passou.
Para onde irei ? Tudo escreve letras de cicatriz e os meus já não conseguem vir, nenhum me pode proteger das queixas que construí em volta de mim. Sou sozinho sempre e ninguém me pode tornar em alguém, só tu ... mas tu não existes.
Existes,
esfumas-te,
retornas,
vais-te e apagas.
Que segurança pode a ave sem mãe ter ? Por favor, um poema que explique tudo !
Ninguém me ensinou a lutar contra o cansaço de perder as noites e ver os dias preenchidos por vultos.
Ninguém me explicou que crescer é sentir a incerteza a todos os momentos e que o tempo não existe e o passado é presente e o futuro é presente e o presente nunca se exprime.
Podias voltar esta noite ...
tic tac
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