Vi do outro lado da rua um carro verde! Um carro comprido, daqueles tipo familiar.
Normalmente não reparo nessas coisas, mas como já estava à espera à muito tempo na rua, acabei por reparar nos pormenores.
Nunca pensei que a rua frente à minha casa fosse tão movimentada. Por ela passavam carros de todas as cores, formas e marcas. Viam-se caras diferentes, caras alegres, caras tristes, umas pensativas, outras alheias ao mundo.
Nos momentos de espera que lá estive passaram animais, as árvores moviam-se ao sabor do vento, as pessoas tratavam das suas casas. Parecia que a minha rua era um pequeno mundo! Um mundo aberto a quem lá passa-se.
A minha rua, pensava eu, não é egoísta! Tanto passam pobres como ricos, e todos eles podem usar a totalidade da rua.
A minha rua é aberta a várias opiniões, não é de sentido único! Passam carros e pessoas nos dois sentidos, aceitando assim direcções diferentes.
A minha rua é larga! Assim podem passar carros e pessoas de todos os feitios, sejam eles grandes, pequenos, altos ou baixos, belos ou feios, da moda ou fora de moda.
E a alegria das crianças a brincar! A minha rua faz tanta gente feliz e é tão útil, concluía eu. Quem me dera ser tão disponível como ela, ser tão livre como ela, ser tão útil como ela, ser tão compreensivo como ela.
A minha rua não critica os seus utentes, e eu critico. Ela não faz distinções e eu faço. Ela gosta de todos e eu só de alguns!
Saindo dos meus pensamentos, continuei à espera da minha boleia. De um momento para o outro, saiu alguém do carro verde. Pegou numa arma e matou uma mulher que vinha na rua! Todos gritaram e fugiam, e eu também fugi. Veio a polícia cortou a rua e levou o homem! A rua ficou tão deserta! Já lá não passava a variedade de seres que tanto me fizera pensar.
Ao ver isto pensei: "Porque deixaste que isto acontecesse ó rua?" E entrei em casa, já não queria sair.