Jazz no rádio, peso dentro, ferramentas e modernices em volta.
Não vou pensar em ti, não posso. Não tenho permissão para pensar.
Tenho dois copos em cima da mesa,
(eu bebia se pudesse. bebia e esquecia meses, ânsias, medos, desastres previstos em noites más)
livros ao pé,
(sempre livros com coisinhas que encaixam em mim. não histórias, pedaços da vida dos outros feitos para mim)
um lenço de Inverno junto a post-its espalhados.
Resumindo,
(nasce, vegeta para aí e morre. que raio ias fazer mais?)
esta secretária que me suporta, me carrega e me faz. Pedaço de madeira de meus sonhos e obras.
Tenho aqui dois livros da Assírio Alvim muito bons, mas não pego neles. Será falta de folgo? Não deve ser. Já li umas partes e me admirei. Se calhar é por isso que não pego neles. Admiram-me demais. Estou farto de trazer coisas admiráveis: ligo a música e uma voz sopra Jazz como vento, mudo e sai-me Mahler com tudo no sítio, vou à estante e um pedaço de estrela ofusca-me os olhos.
Até os livros do António parei, nem crónicas nem nada. É tudo muito bom.
E a secretária aguenta este aborrecimento, esta queixa de dias dados por acréscimo. Um acréscimo que ficou caro e custoso.
Sinceramente, deve ser do Jazz, do frio, da chuva que apanhei hoje enquanto pensava em escrever uma saudade em texto. Saudade não, rejeição provocada pela patologia dos dias cheios de horas marcadas.
E por fim
(acabo sempre por ver outra imagem. a coisa nunca acaba ali. pôr pontos, para mim, é duro demais)
vou ficar com o Jazz. Vou arrumar estas tralhas eléctricas e amanhã começar a ver acabar.
Salve-se o Jazz, as sinfonias do Mahler e os livros do António.