Menino que dorme na noite sem fim.
Menino que dorme dentro de mim.
A história da gente começou num ano sem data, onde houve um Inverno e um Verão à antiga.
(antigamente era. hoje será)
Lembro de rios de água,
poças de água,
brincadeiras na água
e dias contigo na água.
No fundo, foi um tempo cheio de água. Hoje é mais tempo de sal.
Correu tudo muito rápido, parecia cópia da primária. Se calhar era. As coisas que fazemos são sempre cópias:
são ditas
escritas à pressa
e têm erros.
Num dia vimos, no outro juramos e por fim deixamos tudo. Como luz de trovão, rasgamos o céu em metades irregulares por momentos. Depois, morremos em nós mesmos, calamos a audácia e dissemos adeus.
Vimos as barreiras do limite da vida caírem e as grades da vida certa partirem. Criamos portais para o céu e pr'a lua. Navegámos em gondolas de Veneza ao som da música do sonho. Roubamos o fogo aos deuses, mas fomos castigados com o tempo.
Correu o sol naquele carro eterno
(não faço ciência. faço história falada na rua. o sol tem 20 anos. foi quando nasceu para mim)
e a água das nuvens de Janeiro. Tivemos Jazz, periquito, flautas e pianos. Vestimos a vida com cores no cinzento das chuvas e de branco nas cores do verão.
Hoje somos amanhã. Somos adiamento, busca, pensamento, meditação, memória e no fim de tudo, tempo passado
esperado
sentido
roubado.
A história da gente começou. Agora é tarde parar. Começou, entrou, sentou-se no sofá com pantufas e robe, lembrando velho balofo a ver o futebol.
Criamos o hábito a este estado letárgico de sermos conhecidos. Será mau?
Menino que dorme na noite sem fim.
Menino que dorme dentro de mim
num dia cheio de água.