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Um tiro



Me dessem um tiro na cabeça.
Juro
um tiro que atravessa-se o crânio, os miolos,
   (miolos. quem se lembra de tal palavra?)
as ideias, os sonhos e as suposições. Resumindo, quero um buraco no meio da testa!
Para quê?
Quero deixar fugir os pássaros, as aranhas, os pinheiros manços,
   (não gosto de coisas bravas)
a estação onde paro na rotina de viver.

Enchi de percorrer paginas, histórias, imagens, apresentações.
Todos estão mal. É a conjuntura:
amorosa
económica
social
religiosa
familiar
financeira
psicológica
e mais a, b, c, d, e, f,
   (alguém que pare isto! é a falta de miolos. já perdeu a cabeça)
g, h, i, j ...
   (veio a vizinha e disse que já chegava. há sempre alguém que diz "fim")

Levantei-me agora.
Vêm? As palavras assim mais próximas?
É.
   (eu sou. tu és. ele é ...)
Levantei-me e a realidade entra depressa pelos olhos correndo para os dedos.
Parece maratona, ou triatlo. Talvez salto em altura! Não têm as palavras de descer? Colam-se como lapas, ficam nas mãos, na boca, nos outros
   (há palavras que ferem mais que chapadas. são essas as coladas nos outros.
    nós somos.
    vós sois.
    eles são. outros)
e na memória.

Levantei-me sangrando da testa
   (testa: parte frontal da cabeça; faz amizade com a boca, os olhos, o nariz, as orelhas. ao grupinho das "comadres" chama-se rosto)
e sacudi a face.
   (face: outro nome para o grupinho do rosto)
Lá saíram as ideias, os dias, as horas, os minutos ... a matemática, a física, mais  a história, o português.

Vêm como resultou o tiro?
Já agora
   (neste instante a vizinha já diz que chega. tenho de acabar)
posso comer um pouco de chocolate?

Leiam isto como um grito ou sei lá quê!
Ai, e fica assim!!!
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