Share
ShareSidebar


A ilha feliz



O teu beijo largo e quente tornando a lua nossa. O mar calmo batendo eternamente e nós sem lágrimas porque a água é suor. Pouco interessa que o tempo seja este bocado de noite irrepetível, e amanhã eu tenha de voltar a existir. Hoje, agora e eternamente sou teu!
Encosto minha cabeça no teu pescoço e a vida fazendo sentido sobre um areal imenso. Mudava tudo por ti, sabias? Mudava a terra, o nome e deixava a honra. Tudo isto vão em troca de sermos nós.
Sermos nós numa praia escura com a lua como testemunha.
Perdido num abraço apagador da memória ouço o teu respirar e o meu coração estranho porque feliz. Nunca fui feliz. Existi entre o dever e o desejo. Completei estudos, tive méritos e trabalhos. Sou respeitável e pessoa de apreço, mas um infeliz eterno.
Tenho uma vida mediana, habitual e preenchida por trânsito e impulsos biológicos que todos os humanos têm. Mentiria se disse-se que não planiei tudo isto. Não culpo o tempo ou a sina. Muito menos a sociedade que, coitada mártir eterna, me acolheu ao seu modo e jeito, exigindo-me pouco. Está bem pior o pedinte da minha porta. Não come, não bebe e tem de contar o silêncio entre pernas apressadas que não dão esmola.
Tive muita sorte. Não tive foi amor. Acho que também não o mereço! Quem merece este abraço nosso numa praia "enluada"? Quem pode arfar por beijos sérios e fundos, onde o corpo salta numa intimidade secreta impossível de descrever por palavras.
Como contar o inefável de te ver conduzir a minha alma pela certeza do abrigo?
Não se diz.
Não se expressa.
Não se merece.
Sinto uma brisa nas costas e um arrepio chama à vigília os meus pelos. E amanhã? Como deixar-te em troca do tempo?
Olhas os meus olhos e os teus dedos em forma de carícia.
"Fica. O amanhã pintaremos nós ..." (silêncio)
Comentários
0 Comentários

0 comentários: