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Os 10 mandamentos



Dormindo na ponta dos dedos, frios, feridos, humilhados.
O chão espelhado num branco borrado e tingido de vergonha e embaraço. A mãos encostadas a uma parede possivelmente branca onde constam palavras injuriosas.
   (Grafíti "puta")
Onde estás?
Deve ser manhã, ou madrugada alta. Lá fora sons indistintos e eu que não percebo os carros parados numa solidão hipnótica. Faróis que se apagam, gigantes adormecidos numa aura de mistério e thriler. Dormir aqui é o prefácio do surto solitário que, infalivelmente, nos tornámos.
   (Grafíti "amo-te")
Vidros misturados com óleo escuro, negro, criminoso. Uma guerra do outro lado do mundo e óleo no chão, combustível lá diante e vultos solitários que param até uma nuvem lhes cobrir os vidros.
Somos tão sós,
(e juntos)
somos ...
Nos jardins suspensos do lixo animado das excursões passeiam ratos, insectos e uma porção incontável de seres minúsculos e repugnantes. A vida anda sempre na ponta duma seta eterna com fim anunciado no futuro. Talvez o vidro lá fora, espalhado em cristais infinitos porque sós, explique um espelho de mim, de todos, enterrados numa loucura de incertezas sem fim.

Aqui onde durmo o céu é escuro. Vim num carro desconhecido para cumprir um capricho de madrugada. Foi uma coisa rápida, entrei na net, 
uns sites de engate,
um corpo satisfatório,
arrepio na pele e a ânsia.
Marquei um ponto, fomos para outro no meio de asfalto e camionistas gordos que professam a solidão com os olhos.   
Prometiam-se momentos de intenso toque e desajeitado torpor indiferente final .
(permitam-me o pleonasmo, é uma história triste)
No final das contas
(somas: perdas, perdas, perdas! é uma história triste)
perdi um rim, levei uns murros e acabei por sentir o sabor acre duma estação de serviço onde meninos 
vão com os pais passear.    


Acabo de ouvir um rádio lá fora, ainda vivo!
Na cabeça o que a minha mãe dizia sempre:
"Decora os 10 mandamentos".
E eu decorei, meu Deus, decorei.
Que faço agora?
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