Dolente mudança do tempo.
Caiem umas gotas frias lá fora e as andorinhas já fugiram. No parque, onde antes mulheres corriam, passeiam-se uns drogados perdidos e os gatos observando na sombra.
Uma áurea de solidão passei-se pelas luzes elevadas a um patamar superior e as formigas atinam as antenas pela frequência antiga da BBC.
É Inverno e os jarros já choram ...
passou tudo tão depressa! Uns raios desperdiçados sobre a chapa quente dum autocarro que corre. As mangas reduzidas, os catraios dançando entre as ondas baixas da costa fria.
Tudo passou muito depressa.
Uma mãe com a preocupação nos filho atravessa as areias húmidas do parque. Um pato, senhor de si, olha-a com preocupação e a solidão mais funda na alma.
Pode-se clamar tudo aqui.
Ninguém nos ouve ...
xiu ...
Um casa solitária com placas e o sol deitado sobre as telhas dos casebres lá longe.
Nunca nos contaram como é o centro do mundo, um buraco e pronto . No centro de tudo um buraco e pronto. As telhas solitárias num buraco e, como já sabemos, pronto.
Placas às cores e um pobre a ver a fome a ganhar terreno lá em casa.
Uma mãe com a cabeça nos filhos e a solidão do parque e antes ...
antes pessoas a correrem com ar apressado, às voltas, às voltas, às voltas ...
E agora Inverno.
Meu Deus INVERNO.
O sol passou despercebido por umas reflexões de 10 horas com sol ... dez horas da noite e sol. Sol até tarde!
E uma volta no parque onde patos ainda acordados, nadando. Os gatos activos e a mulher rica, sem fome, sem fila dos pedintes eternos que o dinheiro invisível trouxe.
Que jogamos nós agora ...
Que campo é este com chuva e umas luzes lá no alto longe de nós.
Como perdemos tudo numa dose de heroína?
Quem somos nós?
Só mais uma vez ... quem somos nós!