Share
ShareSidebar


Le piano est mort



Faz aí um X bem desenhadinho.
Pegas no bisturi e zásssssss ... deixas assim um X ao jeito da primária antiga.
   (as letrinhas bem desenhadas. redondinhas. elas já andavam cá antes de vós)
Talvez assim vejas que tenho um coração vermelhinho e saltitante (assim o espero) pronto para ter uma casita nova. Ansioso por se ver numa praia diferente onde o mar brinque com a areia dizendo trocadilhos escandalosamente cómicos.

Um piano morto debita uma balada apagada que mal se sustenta no ar. A cada nota, maior é o esforço dos dedos para não sucumbirem à escuridão.
Uma voz cristalina, quase etérea, diz umas palavrinhas tristes  arrancadas ao abismo do coração. Versos, também eles, esforçados, calcados e interrompidos por lágrimas vertidas por uns olhos fixos num passado.
E a melodia sobrevive pintando no ar uma tela patética.
Nisto, o esforço desiste. Param as mãos iniciando uma pausa custosa e sofrida.  Baixam-se os olhos, respira-se profundamente e esboça-se um sorriso no rosto lívido de dor. E, como se milagre, o piano recomeça num passo  acelerado. As mãos, antes cansadas e derrotadas, saltam como gazelas num dia de Maio.
A voz sobe em arpejos, torna-se clara com um sorriso. Saiem as palavras encavalitadas, corredias, falando de uma dor devotamente guardada, como se de uma Nossa Senhora qualquer se tratasse. Porém, o anterior fervor religioso dá lugar a uma vitória militante, marcada a passo de uma voz de vitória total.
Infelizmente, o piano pára. Torna a noite a tudo.
A voz solta um uivo de lobo ferido. Torna a morte aos dedos, desta vez totalmente derrotados.
Sobra o nada de um fim triste.

Só quando vires meu coração, vais perceber, toda a nostalgia que trago.
Por isso faz lá o X
   (sempre bem desenhado. as letras já estavam cá antes)
arranca do peito este maldito irrequieto ser vermelho.
Se vires bem, o catraio tem lá umas notas de piano gravadas.
Comentários
0 Comentários

0 comentários: