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Entre as torres



Se morrermos, morremos todos aqui neste buraco atafulhado de pó, cinza e sangue cuspido por entre dentes que falham. Dentes que falham em segundos e antes não falhavam.
   (olha que lindo que é. meu filho. que lindo que é)
Ao lado geme uma sombra e lá em cima ouço movimentos abafados (como ouço?)
   (olha que lindo. doutor. que lindo que é)
produzidos por vultos invisíveis
(deduzo)
Cheiro com um olfacto confuso um misto de labaredas e ferro enferrujado pela monotonia. Será que isto caiu tudo?
  (olha que lindo. turistas lá em cima. que lindo que é)
Talvez a sombra ainda exista. Vi num programa que a sombra tem vida. Ouve-se dizer cada coisa! Mas era bom ... Os olhos dos que ainda vêem fixos na sombra das alturas, crentes de que o sol cairá, a noite adormecerá os patos do parque
(ao domingo, joging, tretas, ver filhos dos outros por ali)
e quando a máquina dos expressos se ligar
(porque ela domina um mundo seu. custou uma dinheirama!)
o pivó erecto e de confiança desmentirá isto tudo.

será que volto a ver o parque?
um avião de papel atirado por um ser jovem ... não gosto de crianças!
bolas de sabão no ar .
vidros flutuantes no ar que reflectem a relva e a riqueza deste povo!


Sinto um frio nas pernas ... talvez o vento tenha atravessado o meu corpo e, agora, voe!
   (olha que feio. astronauta? que feio que é)
Deve ser só as pernas que se despregaram, como as vigas onde apoiava a minha mesa grande. Janelas sobre tudo, um avião lá longe ...
(tabu)
Como foi que crescemos assim ...
Como foi que caímos!

(e Roma que sabe tudo nos explique: e agora o mundo?)

Porque não esqueço!
  talvez do parque ...
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