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Os pontos



Nem tudo são histórias.
Quando deixamos a rua escurecer e o vento, sempre forte, sempre meigo, bate na cara, as certezas perdem-se. Só quem não sentiu a beleza perto pode pensar conter o mundo nos contos dos pais. A vida é admirável, espantosa, complexa e infinitamente melancólica. Prende-se pelo jogo da descoberta, da busca ou pela dor, a ânsia, o marasmo; descobre-se como quem perde uma certeza aquando das brincadeiras infantis; revela-se no momento dum suspiro sentido daqueles que enchem as horas de solidão com um sorriso.
Passamos ...
talvez seja isso, percorremos a pequena costa do entendimento. Não somos a luz, somos o sentimento crente da mãe que tem o filho doente e promete mundos e fundos à divindade.
Passamos ...
os dias em busca, os tempos mortos, o beijo que tarda sempre e a leve coceira do aborrecimento que paira sempre como se de uma pena se tratasse, "pecaste, cumprirás, ficarás, és isto de hoje em diante".
Passamos e amamos
Não conheço nenhum corpo vivo que não seja duplamente sujeito de culto e indiferença. Talvez só os corpos amados possam ser unicamente compostos por reverência, mas no geral, no cerne das caras que vemos todos os dias, nos saltos de cada animal e no crescer lento de cada planta, tudo se pauta por um abandono paradoxal: "és eternamente misteriosa e assustadoramente desinteressante".
Do mistério ao monótono, do sabido ou incrivelmente necessário, conforto, desconforto ... quanto amor dedicado a um sonho,
quanto amor !
Um amor que consagra as sombras do metro, que repete uma melodia mesmo quando o silêncio pesa no fundo onde ninguém vai, um amor bom onde more o sorriso mais sincero que o humano criou num momento de puro entendimento silencioso, como quando vemos uma atitude nobre empiricamente impossível, o amor em toque ímpar,
um só,
um ponto
(agora, depois, antes).
A soma que recria e impele o relógio que imaginamos, os pontos que nos fazem querer um Natal, um aniversário ou um pequeno momento de silêncio acompanhado a ver o mar. A vida talvez seja isto, os pontos, pontos de amor ...
talvez.

Comentários
2 Comentários

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom Leandro ;)
Continua


Aquele abraço!!

Unknown disse...

@bruno barros

Obrigado caro Bruno