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Se perguntasses



Se pedisses para eu ficar que diria?
Seria o mundo simples, porque acredita tudo o que trago são labirintos enrolados num tique nervoso na perna ou na boca que fala, mesmo que prefira eternamente o silêncio dos olhos que reluzem. Infelizmente o tempo tem-me dito que nada é simples e as pequenas regras engolem o toque no cotovelo.
Sabes tu quantos cadáveres tenho?
Saberei eu quantos aguentarei ...
E se ficasse o que seria o sacrifício? Como reconstruiria este tempo que governo como ourives inexperiente ou pintor sem rascunho. Juro que as pequenas mortes me afugentam,
o copo que não está,
a roupa presa à pele e um baralho de sílabas na boca,
amor, não amor, amor, não amor ... 
misturado com um cinzento tão diferente dos bancos da escola.
Até te poderia exigir um mapa, mas eu perco tudo por nada e as direcções são um mito insuflado por incenso.
As soluções servem-me de pouco portanto, desde já as minhas sinceras desculpas.
Logo que te responder? Mais ainda, terias tu uma voz capaz de perguntar?
Fiquemos com a tua coragem por enquanto.
Porque não crer?
Mas levanta-se a maré do tom da voz, porque sabemos todos os detalhes que um timbre revela,
indiferença
desespero
raiva
desejo
saudade
necessidade
e um valor indefinível de lágrimas, incertezas e planos arrumados numa caixa que somos nós.
Imagino a voz tremendo como que incerta da sua utilidade, ou talvez ofegante por ter subido a um Olimpo altíssimo só porque queria ver os deuses e nada mais contempla que não seja o seu rosto no espelho.
Qual seria o timbre combinado com o movimento dos lábios e da língua tocando o palato, a saliva raspando os dentes como o mar revolto da costa, mais o vento do respiração que queria a voz e alimenta cada pedaço do corpo?
Todo um mistério fabricado pelas células da alma que podem construir a pele emocionada ou o desvio de virar a face a um sol que não desejamos.
Poder ganhar ou perder, em última instância é isto, mas quantos choques enfrentamos no conjecturar dos cenários que nada exprimem da realidade. Farias a pergunta e que resposta daria, eis a real questão, mesmo que este real seja falso porque não contempla cada sentimento de formular uma sentença de futuro.
Mas,
para que o real se cumpra,
se me perguntasses para ficar eu ficaria.
O resto seria outra história.

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