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Até já



Ele engoliu o ferro que o sangue assume quando próximo da boca. Olhou a escuridão do quarto e repensou,
estou mal.
Feridas expostas a cada nervo arrancado ao descanso nocturno merecido, respirar mais fundo como que pedindo um vento diferente capaz de secar a ferida. Cortar cada segundo na pele e as ilusões a fugirem pelos buracos que se abrem,
estou mal.
No amor ninguém vence. Batalhas há muitas, os participantes rodam em volta de um panteão que criaram aonde guardam cada pedaço de esperança trazido dos dias da solidão. "Podes salvar-me" dizem, e acreditam nas palavras proferidas porque sofrer por engano é uma traição tão grande. Sabem, a arena circunda a subtil solidão humana, ocupando-se dos estrondosos barulhos raivosos que o desespero trás aos gestos.
Um beijo caído vá, uma afago no meio deste frio e as feras vendo, babando pelo martírio que aí vem.
Porque fechas os olhos?
Até quando ficas?
odeio tanto sentir um nó de esperança no peito, porra que nada sai. tudo parece colado à pele como o suor incomodativo do Verão, os sorriso esmorecem e aqueles banhos longos de contemplação ficam estranheza.
No fim, as batalhas são sempre uma patética busca de atenção e por serem violentas só afastam. Vês como a escuridão me ocupa?
Não consegue sentir realmente a cama, há algo de leveza insuportável a navegar no ar.
As dúvidas são leves.
não percebes que vou embora?
O pensamento de partir já na sua cabeça a formar-se, primeiro a mala, talvez a roupa de ontem que deixou ali arrumada porque pensou que haveria sexo, há um perfume na casa de banho que talvez devesse levar e ainda mais o quê?
Ver o relógio
a que horas sai o comboio? 
talvez devesse dormir, arriscar um encontro calmo aonde renovassem as promessas. Mas a vida não é só o dever de, tem alguma coisa de vou ali e faço, entendem?
Levantar o braço porque está calor, essas frases que falam termicamente da tristeza como fria são falsas, há gente sozinha no Verão! Quantas lágrimas se evaporam na pele febril e fica só o sal? Enfim, a ver se consigo desmentir uns preconceitos.
Pousar a mão e ver os outros olhos reluzirem, há ali vida suspensa numa dúvida mais capaz que o futuro.
Não sei ser eu contigo - reflecte
Não vás - reflecte
Porquê tratos tremores calados - reflecte.
desculpa, estás aí? 
sim
acho que vou embora
...
Um misto de nojo e revolta subindo, náusea em vez de metal e a boca perra. Já ninguém te leva a sério, não percebes? Podes ir e vir, mas dignidade não se faz em actos, só em ideias.
talvez me pinte de novo num quadro antigo: olá, de onde falas? - seria uma boa pincelada para recomeçar isto.
Foge! Não entendeu ainda, continua a ver olhos presos ao tecto como se fossem portos de abrigo. A tempestade é o caminho, deixa-te andar.
Range os dentes em raiva e levanta a cabeça num acto que podia ser palavra:
fala!
silêncio espelhado por admiração e revolta
resposta
(que sabes tu dos meus mistério? eras mais fácil antes. respira)
virou as costas e dormiu.

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