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Coitados


— Se nos sentarmos aqui diremos alguma coisa sobre nós?
Pensou na questão enquanto o corpo se movia na dinâmica de quem se senta e ponto. Por quê estas perguntas pseudo profundas? Há algo irritante nestas expressões de vida interior quase nervosa, à flor da pele, como uma imitação da loucura lúcida ou sabe-se lá que trejeito de intelectualidade.
sorrir de leve
— Vamos tratar do jantar.
Pronto, disto já entendo porque é das coisas práticas que se vai descobrindo seja lá o que for que nos une. Crianças brincam, ficam amigas; Adultos trabalham, arranjam colegas; ou seja há uma dinâmica para estas coisas de se ser intimo, algo para lá de eu e ele ali sentado a ver sabe-se lá que jeito romântico na noite gelada.
falo
— Vai buscar a carne, acho que é isso para o jantar. Vou fazer brasas.
À ordem ele reage com um suspiro de estátua bonitinha de filosofo pensante. Vai para a porta, entra no calor iluminado da sala com lareira e canta um verso de uma canção brasileira de gosto duvidoso mas óptima para a bebedeira de logo. Será que é sabedoria isto de mudar das estrelas para o bairro?

1. Amor eterno
Toda atenção no agora e adeus, serei novo. Ai o passado é uma grande perda disposta ali longe porque eu nasci novo.
Esquecer!
Fiz uma grande fogueira com os meses contados a trimestres triplos e agora renasço.
Descobri o amor! - choro
O amor maior, sem dúvida ou incompreensão.
Hoje arrumei a alma e encontrei uma possibilidade, até os abandonados me deram esperança. Sou aquele que diz "ali vai o meu amor" e sorri para as ninharias de sempre com um gozo diferente da zombaria.
Ah dor como foste um nada ridículo. Achava-me preso por ti  mas vê, meu salvador quebrou tuas cadeias com um nada medido em instantes.

Dei por mim preenchido de medo do passado como se uma dúvida permanente fosse uma lei da natureza sempre existente, mas agora revelada por uma visão de sentimentos. Não se esquece a felicidade,
é ela na solidão,
ela na alegria,
mudando este desejo novo que tenho.
Antes amava, hoje amo e comparo e percebo, conto no fim um amor mais ténuo, sobreposto mas não opaco.
Aqueles que foram meus roubaram o seu dono de um bem precioso, invisível e incontável, e só hoje vejo a falta de posses que nunca soube ter.
Como se vive sabendo?
Como se vive não sabendo?
E viver assim, sabendo e não sabendo, num estado de absurdo aparente aonde a consciência ataca e a dúvida nasce?

2. Amor eterno
Tens um corpo e eu tenho um corpo.
Um sonho: azul e madeira
Uma noite: azul e madeira.
Adivinhações.
Tu sentas eu sento e as palavras correm até aos beijos.
Quero que me vejas e por isso te mostro um pedaço de gosto. Sorris.
Estou seguro, esqueço a vaidade, fiquemos por nós sem jeitos.

E ele não vem? 
não!
Pronto começamos a almoçar. 
Hoje vamos passear para a praia, está sol e sempre aproveitamos um bocado. Vocês depois querem aparecer lá? 
não sei se vai dar. ainda não sei que ele vai fazer, não falamos muito hoje. 
Mas está tudo bem? 
sim ... sei lá acho que está
(não mãe, não está bem. falhei de novo sabes! porra que não posso fugir de mim, deste eterno crer publicamente num fim digno para o amor).
Não pareces muito certo...
mudemos de assunto senão ninguém aproveita o sol. 

3. Amor eterno
Tem horas em que de joelhos peço uma certeza de ti, de nós. Desculpa se te desiludo mas sabes tenho dias de lobo a mais no calendário. Não sei dar uma cama e um futuro a quem mo pede, talvez se fores roubando cada sombra eu acorde um dia e te diga: para sempre.
Sabes, a maior das tristezas é a felicidade fingida e quando amas-te um eterno que se esgota, ganhas pela indiferença uma empatia de companheira. Mas eu sei, isto passará e se cá estiveres eu serei um rombo de coisas novas para ti e para mim. Do áspero não poderá vir alguma suave beleza?
— Casas comigo?

Lembro-me do frio, era noite e alguns carros ainda existiam no centro da cidade ali perto mas afastado pelo passeio longo de pedra que no Inverno se enche da água das chuvas comando um espelho e um empecilho para quem ali se vê preso com medo da humidade no calçado.
Vieste tarde, sem desculpa e reduzido ao tamanho daqueles que aprecem a primeira vez, que sendo tão leves de história e cumplicidade, são a definição pura do desinteresse pendente quando se busca. Por quê? Vieste cheio de qualquer coisa maior e depois ... depois só isto previsível de quem vai partir com a responsabilidade dos incólumes, sem toque nem palavra, transeuntes.
Principiar o amor para depois bater num vulto? Ah, eu cheio de certezas e tu com aparências de dúvidas.
Falaste, mas nada disseste.
Foste, mas não apareceste.
Lembro-me do frio, de sentir os ossos fracos contra a noite indiferente a mais um adeus pequeno. Naquele dia vinha mais livre para te amar e só sei que devia ter-te dito:
- Diz-me agora, o que devo dizer sobre nós?

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