Perto? Não sei!
Tu até dizias que ia ser giro, ia durar muito e coisas assim.
(o prédio que parece que não vive lá ninguém)
Depois, eu ao telefone a dizer: "é, as coisas são assim". Do outro lado respondia: "é pena. Olha hoje aconteceu-me isto e aquilo". Lá se foi mais um momento de glória. E veio mais uma história sobre aquele que entrou no metro, ou aquela que me disse isto, ou o que se passou no joguing.
(aprende a não dizer. cada um tem de ser um cofre. guarda-se tudo e não se conta nada.)
E depois de conversarmos, lá fui eu guardar. Continuar a ser forte de mim.
Mesmo que a memória me lembrasse o que disseste eu tinha de continuar. Não se disfarça, ou se esquece. Aprende-se a não ligar tanto, a pôr de parte os lugares, as frases, os filmes, as músicas. Não é muito, mas ajuda.
Tapam-se as imagens, lê-se e lê-se. Mas não os livros de antes, esses estão no Index. É certo que começamos a ver pior, a acreditar menos. E tudo se torna mais real e menos sonho. E, talvez (e sublinho o talvez), seja melhor assim.
Só lamento não querer ir ao jardim, não ter vontade de ver as montras. Parar frente a elas e pensar nas cores e formas e tamanhos. Como se a escolha de um trapo que me cubra fosse uma aventura fantástica. Acabaram-se os passeios de bicicleta. E olha que aquilo até me fazia bem.
No fim, ficamos mais estranhos. Andamos na rua e não conhecemos ninguém. Não queremos conhecer ninguém. E todos que aparecem são estranhos, porque têm um defeito não sei aonde.
E quanto aos conhecidos, há os o que ligam, os que mandam textos abreviados, os que marcam saídas. Esses não são estranhos, são amigos. Mesmo que falem de tudo que lhes acontece, só.
O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.
Fermado Pessoa