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Porquê




A chave da minha porta é daquelas das antigas. Ainda cheia de segredos e sons. Pesada e comprida, rodopiando naquele mecanismo da séculos.

Aqueles que amam é que são génios. De que vale grandes livros, ou quadros? Ter uma estrela em Hollywood  e ser famoso por aí? Mesmo que cures o corpo das maleitas, ou descubras as curvas do infinito, o que vai interessar é a ternura de se dar.
O que vale, no fim, é dar um beijo num amigo  e dizer que gostas dele. Não ter medo de parecer parvo ou inconveniente. Não será melhor sorrires com um amigo do que ler um jornal?
Então porque ligamos pouco? Porque deixamos os dias passar sem deixar uma mensagem? Porque aguámos o rosto de manhã, enfrentamos o trânsito, discutimos sobre o poder de mandar? Mas para o café não temos tempo.

Ai tenho um livro para ler,
um site para comentar,
um jantar para fazer
e depois descansar.

E fazemos rima barata com isto. Repetimos todo o dia o ritual de nos mantermos sós. Embelezamos a sala com os tapetes que ela gosta. Pintamos as paredes do quarto, arranjamos molduras de caras que não existem mais. Fazemos painéis de conchas da praia de Agosto, com búzios da lua de mel de há anos.
Esquecemos os sonhos longos e simples. Já não somos cavaleiros contra moinhos, porque Dom Quixote morreu e o Sancho Pança tomou o seu lugar.

Por fim, morrem também os porquês e tornamo-nos "felizes" na sala, no quarto e na casa de banho. Pior é que os búzios já se foram, as conchas partiram e os quadros perderam a cor de tanto limpar.
Admite lá, assentamos raízes nisto!
dizes tu
E vais com uma das chaves antigas e floridas. Rodas o mecanismo num som de prisão que me encarcera em mim. Fechas a porta e fico só. Ouço a música da chave no teu bolso, deves estar a sentir o rendilhado do ferro.
E sais!
Só queria saber porquê!
Comentários
1 Comentários

1 comentários:

Anónimo disse...

Desculpa mas eu não poderia deixar de comentar!!! Estão fantásticos os teus textos. Mesmo. Parabéns e continua :)