Debaixo dessa roupa, sim desse casaco de lã,
(menina fia. fia a vida e a linha.)
está a noite da viagem pensante e o branco do riso de Marte.
Sabias que Marte era deus da guerra? Eu não sabia. Sei que os homens lutam calados. Se calhar Marte é o silêncio da hora da travesseira, ou o olhar baixo da memória em caixa.
(a caixa que contem a minha história, historieta e conto da treta. menina fia. fia a vida e a linha)
Caixa de sonho, caixa de conto. Caixa de mim, caixa de alguém. Vou ao mercado e caixas, caixas e meninas que fiam. São casacos estranhos, pretos e brancos. Fixo as caixas e elas não olham, viraram os olhos para dentro. Deixam cair as lágrimas de cal que endurece o coração.
No fim, caiam tudo de branco,
(casaco preto fiado pela menina que fia, em que caixa estás?)
mar branco, dia branco, cenário branco, actor branco que os pretos metem medo. Sepulcros caiados que encerram dor. Encerram à chave o sonho de criança, de conto de dormir, de canção de embalar. Sonho de história, historieta e conto da treta.
Talvez a menina não fie mais casacos brancos e pretos. Talvez a caixa se parta com marretas difíceis. Marretas que partem o cal das horas da travesseira, do olhar baixo, do pensar redondo em alguém.
(pensar que sai e vem. pensar que parte e volta à hora torta)
Quando a menina vida deixar de fiar tanto casaco de cor, a voz vai sair. Essa voz do fundo de dor que é grito de ferida.
Menino de voz do fundo de dor , sorris à gente que passa e choras na partida.