Tum, tum, tum!
Bate a porta ao som da mão. Nós dos dedos empenhados em chamar-me. Não respondo. Deixei de responder a quem bate. Bebo um chá na sala mais funda da casa desejando que fique noite. Olho o céu cinzento e espero a noite. Ainda não veio, há de vir!
Pelo corredor vem o som das batidas secas. Atravessa as fotografias poeirentas como tudo aqui. Rostos fixos em posições aceitáveis e eternas.
Vou morrer e as fotos no corredor.
Vou morrer e as batidas na porta.
Vou morrer ...
No chão peles de raposas espertas mas traídas. São fruto de caçadas ancestrais, realizadas ao som de músicas viris e avassaladoras. Notas que detesto pois não me dizem nada. Sempre fui um tipo calmo. Um dia tiro as peles e fico-me pelo chão, sempre seria mais verdade. Não gosto de cobrir a miséria e a ignomínia.
Por enquanto, ficam as peles e as fotos a enfeitar a história dos dias. A preguiça tomou-me os ossos num baile e casou com eles. Espero que sejam infelizes os dois, casal mais irritante! Desde que casaram num domingo solarengo,
(os domingos são pastas escuras e claras. dias opostos. místicos e, portanto, assustadores)
não me levantei mais. Encostei-me nesta sala nos fundos da casa, num fundo do corredor onde jazem fotos antigas que não me dizem nada.
Mais tarde vou ter forças. Serei grande e absoluto, cheio de revoluções e verdades imensas pregadas pelo povo nas ruas. Mais tarde viram as certezas da idade e as tristezas impressas num exame de rotina. Mias tarde correrei para porta, abraçarei quem lá bate e beijarei outros que viram bater.
Tudo isto mais tarde!
Tum, tum, tum!
Bebo o chá que nunca acaba e espero a noite ...