O mar e a neve no cume das montanhas.
A mentira é uma pena levada pelo tempo. Esvoaça entre as gentes e cria hábito.
Pena negra de anjo mau.
A mentira dá pena.
Sobre a areia as palavras param e os olhos a fitar uma linha própria.
(coisa subjectiva. visão minha. vejo-me aqui)
Terminou.
Não dissemos mas terminou. Se isto fosse o cinema havia de nascer uma música triste, uns planos parados e umas cores esbatidas. Mas isto é a vida e só estamos cá os dois. Portanto, pouca fita!
A tarde subitamente estranha.
O mar subitamente lento.
Medo subitamente lá.
Outrem subitamente ali.
Ruiu, subitamente!
Levantei o corpo e os sonhos na areia, deixei-os lá. Pesavam muito, eram cadáveres já. Armei paço e enfrentei a areia marcada com os pés efémeros de outros.
(tudo é efémero! sabias?)
O sal do mar condensado nos meus olhos e o teu suor fitando meus desejos fúnebres. Ficas-te na areia enterrando as mãos no fundo do peito. Acho que perdeste algo também.
Não interessa ...
Morreu o pobre crer.
Aniquilou-o um desejo ruim e negro.
Talvez haja um céu claro lá longe, no tempo.
O mar e a neve no cume das montanhas.
FIM