Em estátua de mármore firme com um sorriso de maldade aceitável no rosto. A rua cheia de pessoas, é Sábado à noite, e uns bêbados precoces passeiam pelas vitrinas das livrarias famosas. No vidro letras gordas e ordenadas em capas profundas coroadas com belas fotos.
Confiadamente a noite nascia na rua onde gente já se amontoava. No corpo apetitoso uma roupa da moda, um perfume da época e o cheiro a suor adocicado que faz cair a compostura dos fortes. O olhar fixado nos transeuntes da calçada e no peito o desejo carnal das peles nuas.
As noites são uma epopeia de mistérios infindos onde o a vida se apruma e desfila numa certeza devoradora. Exaltam-se as alturas nos pés, promulgam-se os decotes e as roupas justas que atiçam a fome intima, degola-se a pudícia e as peles passeiam num roçar de pelos eriçados. Era isso o seu amor, o deboche das regras aniquiladas por uns copos caros no bar. Os olhares demorados e insinuantes projectados por caras desejosas e necessitadas. A polissemia das palavras comuns transformadas em possibilidades findadas numa cama de hotel, ou, quiçá, no carro abruptamente parado numa esquina mais parada onde passeiam gatos destemidos
Acabou por entrar num bar badalado, onde passava música badalada e os corpos, como badalos, se remexiam e contorciam ao jeito de rituais animalescos que faisões altivos realizam. Na pista, vultos curiosos desejavam já o seu corpo escultural e abismal ao desejo.
A noite estava garantida.
Bebeu pouco.
Dançou algo ritmado.
Beijou ...
Acabou por preferir o carro e dormir só. Era tudo mais fácil assim .
Amanhã ... um reflexo no espelho.
Somos infinitamente complexos.
(os bêbados ainda passam. salvem-se os livros. o Senhor nos acuda)
Não completo a crónica infinita das luas de néon onde pessoas se atropelam e avaliam. Pistas coloridas com bolas espelhadas e corpos aprimorados ao gosto das certezas universais.
De que nos vale o moralismo?
A noite vem sempre e essa é bem mais acutilante e lacrimosa.
Perguntem ao corpo elegante que os anjos guardam lá para o lado dos Prazeres!
(chora-o o amor de sempre. ele sabe. sabemos sempre)