Doravante
Pedrinhas formadas na calçada.
Dois corpos que se desprendem.
Lá ao fundo uma velhinha contempla uma retrosaria subitamente antiga.
(a mãe pegando na filha. ponto-cruz)
Na mão um calo de milho e no corpo um preto eterno que virou desdém.
Mais adiante pombas brincam num actuar comum,
bicada,
olhar fixo,
bicada,
uma estátua barroca onde dormir.
(a mãe falando com a filha. bordado)
No jardim de fronte passeiam-se umas criancinhas sujas. São anjos de procissão acompanhantes de andores em forma de carrinhos velhos e brinquedos empastados de comida faz-de-conta.Vai-se lá saber porque raio existem os pobres! Uns romenos
(a mãe beijando a filha. croché)
duvidosos calçam sandálias à Cristo mesmo que o céu ameace chuva. Deus não lhes deu temor, não têm pés de barro . Toda a planta de apoio é um misto de unhas escurecidas e calos lembrando os picos dos montes eternos.
Serão eles nossas mobílias de amanhã?
Não sei ... alguém terá de ser!
Na relva distante pedincham uns cães vadios, ao lado drogados caídos e um mais distante na sua luta proletária egoísta: faltam-lhe os filhos. Deus queira, nunca os terá!
(a mãe abraçando a filha. renda)
O mundo que se desmorona numa manhã habitual.
Peças de xadrez embelezadas
(bancários. gerentes. doutores. estudantes de preto afiançado pelos pais)!
Peças de xadrez sacrificadas
(crianças. romenos. drogados)!
As marcas ... branco ... preto ...
(pombos. cães)!
Dois corpos que se separam num ritmo histórico.
(tua mãe era bordadeira. pano. fio.
ponto-de cruz
bordado
croché
renda)
Uma só carne, sem pai, sem mãe.
Uma só carne!
"E casa, temos?"
Pedras arranjadas da calçada: preto, branco ...
Até amanhã ... um beijo.
Largamos a mão e o mundo sem pobres.
Minha mãe lá longe, antes ...
(welche zukunft?)
Publicada por
Unknown
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