Flutuante o vibrar das partículas sentimentais. A vida é tão inaudita quando um sol de Outono nos acaricia a cara e uns patos,
tresloucados combatentes do vento,
nos olham com desconfiança enquanto folhas caiem.
Imaginem-se num ponto flutuante do mundo. Formigas,
nós,
passeando-se entre casa de cristais, pilares de ferro e árvores de material fofo.
Imagine-se uma polaridade nova, o Sul no Norte, o Norte no Sul. O tempo ao contrário
(duas, uma, meio-dia, onze ... não quero acordar ... fica)
e os rios correndo revolucionariamente para o útero das montanhas.
Imagino um sol escuro com brilhos de néon, toques de laser e cheiro de velas aromáticas. Um ponto dispersos entre o sonho que não percebemos. Estaremos vivos?
Não creio ...
Três premissas disse, e o sol lá fora, aqui, sempre. Os patos já despreocupados enquanto bolas de ténis distantes saltam
saltam
saltam ...
Como as verão os pássaros? - Já fogem, tadinhos ...
Um gatito mira os patinhos do cimo dum muro de tijolo furado, um tijolo com desenhos. Na cama, donde saí, um desenho estranho de certeza quente.
Pintura mística.
Cante-se o artista sublime!
Na esquina da rua um homem imagina a infância distante que não recorda. As crianças da escola nova
(um,dois, três ... digam ... não sabem!)
correm por um recreio de alcatrão marcado de dívida. Em ilhas da periferia, putos fumam os primeiros cigarros e discutem as primícias púbicas. Cheira-se emancipação falaciosa, como nos bairros de liberdade pobre onde carros perdem as rodas e meninas encurtam as saias por uma merreca de pão e verniz barato que adoram colocar.
(estou bonita? não sou ... não tive estou bonita?)
Que futuro este?
Um desenho na cama agora aberta.
Doçuras de sol que acalentam o olhar.
Ninguém ama acordar cedo, ver as notícias habituais em desenhos de vermelho, urgente e numeral.
(Árabes na TV. um, dois, três. como contamos tudo!)
Pés que correm contra o relógio, os ditos das pingas quentes, a rotina das mandíbulas polidas, as cores da Estação ....
(como disse: Outono)
... completo o actor.
Numa paragem de autocarro senta-se uma mulher de leste, os seus olhos claros de verde estranho falam de lixívia barata e dum canudo estrangeiro que não lhe reconhecem.
Grande lutadora ... grande princesa, rainha, imperatriz!
No fim da rua esvoaça um lume de plátano que o vento ateia num reboliço premeditado, rotineiro e, portanto, aceitável de tão agradável.
Sussurro ao ar um segredo
- Logo vou-te ver!
E o céu sorrindo com uma sorte inaudita.