“Se saires para a rua vais ver … vais ver o que não quero que vejas…” Eu sei. Nós nunca queremos que vejam. Mas não temos chance e tu sabes que sim. Tu sabes bem que a vida não é aqui dentro. Eu não posso ficar aqui, tenho de sair.
É apostar mal dizes tu. Ai mas apostarei. Disto já vi. Disto já sei. “Não saias que não deves. Tu não sabes nada deste mundo!” E tu, estás ai a falar, sabes alguma coisa do meu? Alguma vez vistes o que eu vi? Ouviste o que eu ouvi? Sentiste a náusea que eu senti? Falas porque era mais fácil.
Ai tu sabes, e não só tu, que eu tinha de sair, que ia ter de ver. Agora acabou a conversa. Avança com o carro e anda lá. O resto não me vais dizer a mim. Confessas à tua travesseira, enquanto esperas que o sono venha, um sono sem sonhos
(eu sei sr. Dr., eu até abuso. eu até devia esquecer mais. mas que quer … eu sou assim. Passe lá o remédio que eu tenho muitos sonhos…)
maus e tristes.
Tu vais dormir, mesmo com sonhos falantes, eu não vou dormir. Vou falar com o passado, com os que já foram, com aqueles todos e com aquele. Ou pensar naquilo que não sei mais, no meio de uma música melancólica.
Ai, porque eu sei que a noite tem lua, mas eu ficarei pelos nocturnos. Não quero trair a esfera da noite.