Já me pesam os olhos, mas não durmo. Continuo a não dormir. É sempre aquilo e aquele, àquela hora. Não sai, mesmo que queira, não sai.
E o homem na varanda, ou na janela (já não me lembro bem), com os olhos fixos no horizonte. Que terá para lá da linha? Será o ponto de fuga? Isso é para os arquitectos. Muito certinhos esses. Mas o homem não é certinho, mas olha na mesma. Ele olha e eu não sei o que ele vê. Parvo do homem que não fala. Podia tirar dali as vistas e olhar para mim.
("não olhes para mim com essa cara. mais valia que me espancasses")
Um dia, saí para o jardim e eles ficaram do outro lado do recreio. Subi para o piso de cima fugiram de mim à mesma. Eram mais olhares. Olhares fixos num ponto em mim que eu não via. Era estranho, o espectáculo era eu sem me passar pela cabeça porquê!
Assim começou o meu medo aos olhos fixos. Depois vieram os funerais, os moribundos nas camas, e mais funerais, cantados ou não cantados. Era olhar, sentir, esconder, sair rápido. Piada aqui e acolá, mas sabíamos que era tudo triste.
Quando será o nosso? Quando estaremos nos olhos de todos? Ai, deve ser estranho... são mais olhos postos em mim.
Acho que me vou deitar. Ver se os olhos pesam mais um pouco, mais um pouquinho até que fechem. Mas esquecer? Amanhã...